Processo Coreográfico desenvolvido em Essen na Alemanha pelo jovem bailarino e coreografo Douglas Jung, contando com a participacao dos bailarinos Pamela Fernandez(Argentina) e Ricardo Gregianin(Brasil).


19 de jan. de 2009

Momoria da MINHA Carne…

Neste post, que é o primeiro de uma série que virá, passo a relatar algumas das razoes, fatos e referenciais que julgo serem partes importantes e ou molas propulsoras para a instauracao desse processo. A maior parte dessas informacoes sao de carater pessoal e partes de uma experiencia que tem sido vivida intensamente nos últimos 4 meses completos HOJE.

A minha CARNE está impregnada delas. Os ossos, os cabelos, os pelos, o tempo, o espaco e tudo mais que me constitui e influencia…

A MEMÓRIA.(e suas razoes)

Minha tragetoria como bailarino e coreógrafo nos últimos meses tem sido permeada por uma serie de memorias de situacoes e praticas vividas anteriormente. E importante ressaltar a falta que este tipo de situacoes e praticas fazem na minha vida enquanto artista em formacao, haja vista que em Setembro de 2008 embraquei em uma vigem com destino a Alemanha para audicionar na Folkwang Hochschle Essen, tradicional escola de danca moderna alema que me absorveu e da qual hoje faco parte do corpo discente.
O questionamento de fatores relativos a técnica, disponibilidade corporal e o conceito de bailarino me é recorrente, na medida em que consulto as memorias e as questoes de Bondage, meu ultimo trabalho como coreógrafo- desenvolvido ainda no Brasil, e verifico a existencia anterior dessa necessidade pungente de questionar e investigar esses aspectos, bem como sua abordagem pela/na producao de danca atual.
Fato é que depois de chegar a Alemanha e iniciar meus estudos no curso de Bacharelado em Danca na Folkwang Hochschule, essas questoes se puseram ainda mais urgentes, aliadas as memorias e a falta que me fazem as praticas de danca as quais me habituara a seguir em meu país de origem e as quais nao estou me submetendo atualmente.

É inevitável a comparacao e o sentimento de perda de referenciais quando se está imerso em um contexto e de um momento a outro muda-se bruscamente a meneira de absorver e exercitar o conhecimento que é transmitido. Esse tipo de mudanca de hambiente altera fortemente as sinapses de aspectos muito relevantes para a construcao do saber no corpo que danca e por consequencia em arte. Em meio aos aspectos díspares posso citar a língua, a didática da nova escola, os padroes de movimiento e o carater cosmopolita e um tanto impessoal do meio onde estou inserido no presente momento, e etc.
A transferencia do corpo para um novo lugar, onde o contexto geográfico, socio-politico, económico e sobretudo artístico- no que diz respeito ao meu pensar e fazer em danca, é totalmente diferente; já desde os primeiros dias comecou a detonar o processo de perda de alguns referenciais e estranhamento. O que é perfeitamente intendível e normal. A falta dos amigos, da familia, de dinheiro e essa nova perspectiva para o olhar sobre a minha danca- que até o presente momento nao me agrada e acentua essa carencia; provoca uma serie de dúvidas e traz a tona uma serie de memorias de um passado recente e de horizontes mais claros a cerca de cada um desses fatores. A esse tipo de impressoes ou conjunto de memórias e sentimentos, escolho chamar de “SAUDADE”.

Denomino saudade o que sinto quando penso em como estava configurada a minha vida anterior a viagem. Sinto falta da vida que levava em Porto Alegre, do meio artístico onde estava inserido, dos amigos , professores e colegas que tinha, das aulas de diferentes técnicas e da visao artística que compartilhava com os alguns indivíduos inseridos nesse meio naquela cidade.
Essa comparacao de contextos, a perda de referenciais e sobretudo a saudade, provocaram em mim uma serie de mudancas corporais, dúvidas e desejos que depois de detectadas e entendidas, me impulsionam para o ato criativo a cerca desse tema.
No que diz respeito as mudancas corporais, percebo que além de menos estável e um bom tanto mais tenso, meu corpo já nao consegue mais acessar fácilmente algumas informacoes a cerca de espaco articular, encadeamento muscular e os sinais de abertura para as praticas improvisativas que comecavam a aparecer naturalmente, agora carecem de muito mais tempo e esforco para serem recobradas e acessadas. Como coreógrafo- pratica que nao separo das demais técnicas de exploracao corporais; sinto falta do ato criativo, da pesquisa teorica e de linguagem e da composicao, haja vista que até agora nao tive a oportunidade de exercitar essas praticas que encerram em si o campo exploratorio da danca no qual quero investir.

Feita a coleta e explanacao destes dados que contém algumas das atuais razoes para a instauracao desse processo coreográfico, me permito fazer um breve retrocesso ao ponto onde me proponho a criacao de Bondage. Na época(Abril de 2008) inscrevi meu projeto no processo seletivo da Incubadora de Novos Coreógrafos do Grupo Gaia, impulsionado pelo objetivo de investigar e por em prática os conceitos e questoes relativas a danca que acumulara ao longo da minha tragetoria até entao, mais precisamente durante o tempo em que atuei junto ao próprio Grupo Gaia e ao período em que integrei o Grupo Experimental de Danca da Cidade de Porto Alegre(2005 a 2008). As questoes centrais do Projeto confrontavam o corpo e sua mobilidade/diponibilidade para o movimiento e as situacoes de parcial ou aparente imobilidade com as possíveis e diferentes formas de organizacao desse novo corpo, agora amarrado e com parte da mobilidade subrtraída. Paralelamente a pesquisa e investigacao no campo do movimiento, se deu a pesquisa estética e de linguagem poetica, parte da concepcao cenica(pre e pos-producao) dessa obra em danca. O resultado desse processo foi apresentado no final de Agosto de 2008, durante tres noites na Sala Alvaro Moreyra do Teatro Renascenca em Porto Alegre.
Duas semanas depois da estréia de Bondage, embarquei para a Alemanha. Ou seja, a memória do processo anterior, das questoes relativas a ele e das práticas utilizadas para atingir os objetivos do projeto ainda estavam muito vivas e presentes no meu cotidiano.

Também julgo importante citar alguns professores e parceiros com quem tive extreitas relacoes de troca nos últimos anos e aos quais tenho como referenciais para a construcao da minha visao de mundo enquanto artista. Diego Mac, bailarino, coreógrafo, videomaker e diretor artístico do Grupo Gaia, que me acolheu na chegada a Porto Alegre no ano de 2005 e desde entao me serviu de espelho para construir uma nova maneira de pensar e entender corpo, danca e esspecialemente a arte contemporanea. Luciana Paludo, bailarina, professora de danca e Mestre em poéticas visuais, com quem tive aulas regulares durante o ano de 2008 e a quem atribuo ao trabalho consciente e generoso, mudancas muito significativas na minha maneira de mover e perceber meu corpo. E por fim Tatiana da Rosa, bailarina, coreógrafa e professora do curso de Danca da UERGS, com quem também pude ter aulas e receber informacoes que me trouxeram diferenciais valiosos para o entendimento de corpo atual que construí.

Tendo presentes todos esses fatores e informacoes a respeito da minha tragetória desde antes da saída do Brasil até a imersao no contexto em que me encontro, passemos entao as questoes para a instauracao deste novo processo de pesquisa que tem como obejtivo a criacao de uma obra poetica em danca baseado no cruzamento desses dados, memorias e referenciais anteriores com as informacoes que tenho recebido e extraido do meio onde estou inserido, somando ainda minhas vontades artísticas atuais e alguns referenciais teoricos que vao dar maior suporte a essa empreitada.

………………………………………

E assim vou me dissecando e separando da carne a memória que finalmente é o que vai nos mover mais adiante.

4 comentários:

  1. jogue-se no suveniers e acumule vivencia.
    heheheheheh
    bem lindo texto e razoes...
    to curioso pra ler do processo mais e mais e mais
    bjaum eboa sorte!

    ResponderExcluir
  2. Huhuahuahuahu ainda tenho que ajeitar esse texto, cortar coisas. Ta bem repetitivo ainda. Mas ta, foi assim que saiu... huahuahuahu Acho que é por que essa ladainha toda de saudade e memoria é assim mesmo, repetitiva, né?
    E como o proprio titulo do post jah explicita: ta na minha carne.
    Mas mesmo assim quero arrumar isso tudo pra fazer um projetinho bem lindo, bem escrito e coerente... hhahhauhauhua

    ResponderExcluir
  3. "A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, assim como o vento apaga as velas, mas atiça as fogueiras."

    VAI MEU BEM, TRANSFORMA EM ARTE ESSE SENTIMENTO TÃO PROFUNDO QUE DÓI NA ALMA ATÉ APARECER NA CARNE!
    DÓI, EU SEI COMO É, POR ISSO SERÁ LINDO, FORTE E PROFUNDO- TUA CARA!!!
    METE O PÉ QUE TU É FODA!!!
    QUALQUER COISA GRITA Q LONGE TÁ SÓ O CORPO!
    SINTO NA CARNE TUA FALTA!
    XI AMUUUUU

    "Para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro."
    Leonardo da Vinci

    ResponderExcluir
  4. Pois é. É excitante perceber como as coisas se transformam e que as matérias originais parecem fazer muito mais sentido do que faziam quando ainda eram originais.

    Voltar, hoje, para 2005 e lembrar do Doug naquela situação 'recém-chegado a um porto nem tanto alegre' é como pegar minhas anotações sobre Alice quando ele, o espetáculo Alice, não tinha sequer o nome Alice. Reler tais escritos me fazem perceber que são eles a própria coisa: como se a identidade do trabalho tivesse, de fato, em seus documentos.

    E é assim que consigo perceber a intenção do Doug quando escreve; não tanto pela proposição específica e isolada da pesquisa, mas pela perspectiva da conexão com tudo que passou. Documentos de trabalhos que estão inscritos no corpo e pelo corpo lidos e veiculados; isso me faz lembrar o ‘Para você, o que você gosta’ – e aquela história de que o projeto poético de um artista é apenas uma obra dividia em inúmeras partes começa a fazer sentido...

    Não se estou sendo muito tendencioso pelo fato de estar atualmente imerso no conceito de reprocessamento, mas pra mim é isso... a saudade é uma esteira de reciclagem!

    ResponderExcluir